Miguel, 65 anos, nota um nódulo indolor no peito. Hesita em consultar, perguntando-se se uma doença geralmente associada às mulheres pode realmente afetá-lo. Contudo, descobre rapidamente que esta patologia, embora rara, também atinge os homens.
Mas afinal, o que é o cancro da mama no homem? Quais são os factores de risco e como é tratado?
Olá, sou a Dr.ª Joy!
Neste artigo, vamos explorar as especificidades do cancro da mama no homem, clarificando a sua raridade, detalhando os sinais a vigiar e as modalidades de tratamento disponíveis.
I – O que é o cancro da mama no homem?
Tal como as mulheres, os homens possuem tecido mamário (glândulas mamárias ou vestígios) a partir do qual um cancro pode desenvolver-se.
O cancro da mama no homem é raro. Representa menos de 1% de todos os casos de cancro da mama. A doença afecta cerca de 1 homem em 934, em comparação com 1 mulher em 8.
O cancro da mama desenvolve-se da mesma forma nos homens e nas mulheres. O tipo mais frequente é o carcinoma ductal, geralmente invasivo. A maioria das informações sobre a doença aplica-se a ambos os sexos, nomeadamente quanto à formação, evolução, diagnóstico e tratamentos. Contudo, existem algumas características distintas, muitas vezes devidas a diferenças biológicas.
II – Fatores de risco
As causas não estão totalmente esclarecidas, mas vários factores podem aumentar o risco:
- Idade avançada: o risco aumenta com a idade, sendo a doença mais comum após os 60 anos.
- Antecedentes familiares: o risco é maior se familiares directos tiveram cancro da mama ou do ovário. Cerca de 1 em cada 5 homens afectados tem um parente próximo com a doença.
- Mutação genética hereditária: mutações nos genes BRCA2, BRCA1 ou PALB2 aumentam o risco. O BRCA2 está particularmente associado à doença (cerca de 15% dos casos).
- Síndrome de Klinefelter: condição genética rara caracterizada pela presença de pelo menos dois cromossomas X e um Y. Os homens afectados têm níveis mais baixos de androgénios e mais elevados de estrogénios, o que aumenta o risco entre 20 e 60 vezes.
- Desequilíbrios hormonais: hiperestrogenismo.
- Obesidade: as células adiposas convertem androgénios em estrogénios, aumentando o risco.
- Doença hepática grave (como a cirrose): o fígado deixa de regular correctamente os níveis hormonais, resultando em aumento dos estrogénios e diminuição dos androgénios.
- Tratamentos hormonais: terapias que aumentam os estrogénios ou reduzem os androgénios (ex.: hormonoterapia para o cancro da próstata).
- Ginecomastia: desenvolvimento anormal do tecido mamário, frequentemente associado a distúrbios hormonais.
- Outros factores: exposição prévia a radiação no tórax, consumo excessivo de álcool, doenças testiculares (criptorquidia, orquidectomia, complicações de papeira na idade adulta).
III – Sinais e sintomas a vigiar
O cancro da mama pode evoluir silenciosamente nas fases iniciais. O diagnóstico precoce é essencial, pois o prognóstico agrava-se quando é tardio.
Sinais e sintomas:
- Nódulo indolor no peito (frequentemente próximo ou sob o mamilo).
- Secreção ou sangramento pelo mamilo.
Retração recente do mamilo (inversão para dentro). - Dor ou inchaço no peito.
- Alterações na pele ou no mamilo (crosta, descamação, eczema persistente ou ulceração).
- Aumento dos gânglios linfáticos (axila ou clavícula).
IV – Diagnóstico e tratamento
Diagnóstico: Ao contrário do cancro da mama feminino, não existe rastreio sistemático nos homens devido à baixa incidência. O diagnóstico é geralmente feito após o próprio homem notar uma alteração. Os métodos são os mesmos das mulheres: exame clínico, mamografia (exame de referência), ecografia e biópsia.
Tratamento: O plano é personalizado segundo as características do tumor e o estado geral do doente. O tratamento é muitas vezes semelhante ao utilizado em mulheres pós-menopáusicas.
- Cirurgia: opção mais comum (mastectomia radical modificada ou tumorectomia, geralmente com remoção dos gânglios axilares).
- Hormonoterapia: indicada em muitos casos, pois a maioria dos tumores é positiva para receptores hormonais (ER/PR+). O Tamoxifeno é o fármaco mais utilizado. A orquidectomia pode ser considerada.
- Quimioterapia: proposta se a doença se espalhou para os gânglios ou se o risco de recidiva é elevado.
- Radioterapia adjuvante: utilizada após cirurgia para eliminar células residuais e reduzir recidivas.
- Terapias alvo: ex. trastuzumab para tumores HER2+ ou palbociclib para formas avançadas.
Apesar da melhoria significativa da sobrevivência, o prognóstico pode ser mais delicado devido ao diagnóstico frequentemente tardio.
A vigilância dos sintomas e a procura precoce de cuidados médicos continuam a ser a chave para o melhor prognóstico possível.
Estas informações não substituem o aconselhamento médico.
Deve procurar o conselho do seu médico ou de outro profissional de saúde qualificado para quaisquer questões que possa ter relativamente ao seu estado de saúde.
Fontes: