Inês estava absorvida nos seus pensamentos quando sentiu uma pequena induração, dura e incomum, logo por baixo da pele do peito. Esta descoberta fortuita trouxe-lhe uma onda de angústia. Lembrou-se das campanhas do Outubro Rosa, que todos os anos recordam a importância crucial da vigilância e da deteção.
Mas o que é exatamente o cancro da mama? Quais são os sinais e sintomas a vigiar, e porque é que a deteção precoce é tão vital para o prognóstico?
I – Cancro da mama: generalidades e dimensão do problema
O cancro da mama é uma doença caracterizada pelo crescimento descontrolado de células mamárias anormais que formam tumores. Estas células têm origem nos canais galactóforos e/ou nos lóbulos produtores de leite. Se a forma mais precoce (in situ) não compromete o prognóstico vital, os cancros invasivos podem espalhar-se para os gânglios linfáticos ou para outros órgãos, formando metástases potencialmente mortais.
O cancro da mama existe em todos os países do mundo. Em 2022, foi a principal causa de cancro nas mulheres em 157 países em 185. Estimou-se que 2,3 milhões de mulheres foram diagnosticadas e 670 mil morreram desta doença em 2022, a nível mundial.
II – Quem está em risco?
O cancro da mama afeta mulheres de todas as idades a partir da puberdade, e a sua incidência aumenta com a idade. Quase 80% dos casos desenvolvem-se após os 50 anos. O sexo feminino é o fator de risco mais importante, sendo que os homens representam apenas 0,5% a 1% dos casos.
Outros fatores que aumentam o risco incluem:
- Idade.
- Obesidade.
- Tabagismo e consumo excessivo de álcool.
- Antecedentes familiares de cancro da mama.
- Predisposição genética: algumas mutações hereditárias, nomeadamente nos genes BRCA1, BRCA2 e PALB2.
- Falta de actividade física.
- Alguns antecedentes médicos pessoais ou familiares.
É importante notar que cerca de metade dos cancros da mama ocorrem em mulheres sem fatores de risco específicos para além do sexo e da idade.
III – Sinais de alerta e deteção precoce
Numa fase inicial, o cancro da mama é frequentemente assintomático. A deteção precoce é, por isso, fundamental e assenta em duas componentes principais: o diagnóstico precoce e o rastreio.
Deve consultar um/a profissional de saúde sempre que notar alterações incomuns.
Os sintomas incluem, nomeadamente:
- Um nódulo ou espessamento no seio ou debaixo do braço, muitas vezes indolor.
- Alteração no tamanho, forma ou aparência da mama.
- Alterações na pele, como covinhas, vermelhidão, edema ou aspeto de pele de laranja.
- Alterações na aparência do mamilo ou da aréola (retracção, secreção ou corrimento anormal ou com sangue).
Mesmo que a maioria dos nódulos seja benigna, a avaliação clínica é essencial. O tratamento é mais eficaz quando os tumores são de pequena dimensão e não se espalharam para os gânglios linfáticos próximos.
O rastreio por mamografia permite detetar lesões antes do aparecimento de sintomas. É oferecido a mulheres aparentemente saudáveis, geralmente entre os 50 e os 69 anos, segundo a OMS, ou entre os 50 e os 74 anos, segundo o programa francês. Além disso, recomenda-se um exame mamário anual realizado por um médico a todas as mulheres a partir dos 25 anos. Este protocolo de rastreio mantém-se idêntico para as mulheres com próteses mamárias.
IV – Tratamento e esperança
O tratamento do cancro da mama é personalizado. Tipicamente combina cirurgia (tumorectomia ou mastectomia), radioterapia e medicamentos (quimioterapia, terapias hormonais ou terapias biológicas alvo).
Os progressos alcançados são notáveis. Atualmente, os tratamentos são muito eficazes quando iniciados precocemente e levados até ao fim. Nos países com rendimento elevado, a taxa de mortalidade caiu 40% entre os anos 1980 e 2020. O diagnóstico e tratamento precoces são essenciais para reduzir o peso desta doença.
“Detetar um cancro o mais pequeno possível é garantir o mínimo de complicações possível.” – Natacha Espié (psicóloga)